O número de adolescentes de 16 e 17 anos que procura o Cartório Eleitoral para fazer o título de eleitor na época das eleições municipais é bem maior que a procura em anos de eleições estaduais. Esta informação é confirmada pelos dados do Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
“Isso acontece porque a política municipal está mais próxima da realidade dos eleitores. As pessoas conhecem os candidatos, os vêem na rua, os cumprimentam, são amigos, parentes, pessoas próximas", explica o cientista político Ernesto Seidl. "Como os deputados, governadores e senadores buscam votos em vários municípios, o envolvimento das pessoas acaba sendo menor", conclui.
Segundo o responsável pelo setor de informática do TRE, José Carvalho Peixoto, a tendência é que o número de eleitores de 16 e 17 anos aumente a cada ano. "Mesmo no período posterior às eleições, a procura aumentou. No período de novembro de 2008 a janeiro de 2010, 6.959 jovens procuraram o TRE para solicitar o título de eleitor", informa.
Perfil dos adolescentes Estudante acredita que jovens de classe média alta tem mais envolvimento por causa da família
Traçar um perfil dos jovens de 16 e 17 anos que irão votar nas eleições de 2010 não é uma tarefa fácil. Isso acontece porque não há, segundo Ernesto Seidl, pesquisas que apontem a escolaridade e o poder aquisitivo desses jovens, apesar de haver estatísticas sobre o número de adolescentes que procuram o Cartório Eleitoral.
A influência da família é, de acordo com o cientista político, um dos principais fatores que leva os adolescentes de 16 e 17 anos a fazer o título de eleitor. “Quanto maior a escolaridade dos pais, mais politizada é a educação dos filhos. As crianças aprendem mais cedo o significado de assuntos relacionados à política, como assembléias, reuniões e sessões administrativas”, revela Seidl.
O segundo fator que influencia jovens de 16 anos a se interessar mais por política é a participação em associações de moradores, grupos religiosos, organizações não-governamentais (ONGs), sindicatos, movimentos estudantis e partidos políticos. “A participação partidária é pequena, mas existe. O que constatamos é um envolvimento relativamente grande em movimentos estudantis, principalmente nos grêmios escolares”, afirma Ernesto. Laura acha que o poder aquisitivo não interfere no interesse político
O que eles pensam
Sobre a afirmação de Seidl de que o interesse por política é maior entre adolescentes de classe média alta, alguns entrevistados discordaram. “Não é que o interesse seja maior e sim o envolvimento, já que muitos desses jovens são parentes de políticos”, opina Lucas Rocha, estudante do 2ª ano de um colégio particular da capital.
A estudante Laura Campos, de 17 anos, concordou com Lucas e disse que em sua turma, formada por alunos de classe média alta, poucas pessoas possuem engajamento político. “Definitivamente esse não é um assunto discutido nas rodinhas de jovens”, opina. Laura acredita que deveria haver mais incentivo por parte dos professores e dos pais. “Seria bom se soubéssemos mais sobre como utilizar o nosso voto de uma forma benéfica”, diz. Raiane Bomfim diz que muitos alunos não acreditam que o voto pode mudar alguma coisa
Já Vanessa Rolim, aluna de uma escola estadual, acredita que o interesse político na sua turma é grande. “Participantes da União Socialista de Estudantes Secundaristas incentivam outros alunos a procurar saber mais sobre o universo político e sobre a realidade socioeconômica da sua cidade”, diz.
“Entretanto, ainda há alunos que acham que saber mais sobre política é inútil porque por mais que as pessoas reclamem, as coisas [escândalos de corrupção e desvios de dinheiro] continuam as mesmas”, opina a estudante Raiane Bomfim, de 16 anos. “Eu não acho que as coisas devem ser vistas dessa forma. Participar mais do processo eleitoral – procurando se informar sobre as propostas dos candidatos e o histórico político de cada um – é o primeiro passo para a mudança”, conclui.