Efeitos dos esteróides anabolizantes vão além dos músculos

A necessidade de modelar o corpo da forma mais rápida e prática são os fatores que abrem facilmente uma porta para o uso de esteróides anabolizantes. Conhecidos pela maneira como potencializam o resultado de exercícios físicos, essas substâncias ganham cada vez mais espaço onde prevalece o corpo como ideal de beleza, felicidade e status.

De acordo com o personal trainer e presidente da Federação Sergipana de Musculação, José Domingos Santana, esse apelo à estética, propagado, em sua opinião, principalmente pela mídia, não admite demora. “As pessoas não querem esperar mais. Por isso sempre querem um caminho mais rápido para conseguir as coisas”, diz.

Domingos afirma que efeitos colaterais surgirão, independente do tempo
Domingos explica que a reposta do corpo de quem utiliza anabolizantes é quase três vezes maior do que o normal. “Quem malha regularmente e sem usar esteróides ganha em um ano 6kg de massa muscular. Com o uso desses hormônios, a pessoa ganha no mesmo período até 15kg”, compara.

Quem pensa que apenas essa ‘mágica’ é o melhor saldo, não conhece as estórias que moram por trás dos corpos sarados. Junto com a barriga tanquinho e o tórax saliente surgem detalhes bem desagradáveis, passando longe do que vemos em editoriais de moda ou programas de televisão.

Efeitos colaterais

Antônio de Pádua diz que usuários chegam a se viciar nos esteróides
“Acne, queda de cabelo, impotência sexual e mau hálito”, lista, Domingos, alguns dos principais efeitos do uso de anabolizantes. Segundo ele, independente do tempo em que as seqüelas surjam, “futuramente, todo mundo que usa terá alguma consequência”, afirma. Além daqueles, os homens podem apresentar diminuição na produção de esperma, dificuldade ou dor ao urinar e o crescimento irreversível da mama, doença conhecida como ginecomastia. Nas mulheres, o engrossamento da voz, aparecimento de barba, aumento do clitóris e diminuição dos seios são os principais sintomas.

Entre os remédios mais utilizados, estão Durasteton, Deca-Durabolin e Androxon. Todos possuem em sua fórmula a testosterona. O uso, sob recomendação médica, é indicados para pessoas que apresentam deficiência na produção deste hormônio - fabricado nos testículos e responsável pelo desenvolvimento dos músculos e das características sexuais masculinas. Mesmo com venda e uso controlado, Domingos diz que no mercado negro não é difícil adquirir esses medicamentos. “O crescimento é desenfreado, assim como as drogas”, alerta.

Alimentação e suplementos naturais trazem os mesmos resultados físicos

O coordenador Estadual de Vigilância Sanitária, Antônio de Pádua, chama à atenção para outro aspecto alarmante. “Usuários que injetam os anabolizantes com técnicas inadequadas e não estéreis, ou dividem agulhas contaminadas com outros usuários, correm o risco de contrair infecções como HIV, hepatite B e C. Há, ainda, o problema com a fabricação ilegal dessas drogas, processo que ocorre em condições também insalubres”, ressalta.

Ele concorda quanto à dependência que os anabolizantes podem gerar. “A pessoa pode continuar a utilizar essas substâncias mesmo depois de ter apresentado algum sintoma físico, comportamental ou mental. Além disso, muitas vezes acabam gastando uma grande quantidade de dinheiro e desperdiçando tempo para obtê-las”, explica Antônio.

"Músculo se constrói com paciência e determinação", diz Domingos
Também perigosos são os medicamentos (vitaminas e similares) de uso veterinário, costumeiramente injetados nas coxas, ombros ou braços. “A diferença, nesse caso, é que o músculo acaba apenas inchando. Além disso, o local onde é feita a aplicação fica marcado e, ao depender da infecção gerada, pode levar a amputação do membro”, diz. Em alguns casos, o uso de anabolizantes pode levar à mote. Em Sergipe quatro pessoas já perderam a vida por esse motivo nos últimos anos.

Falta de informação

O caso de uma dessas vítimas motivou uma campanha contra os anabolizantes extensamente trabalhada em 2004. Sob o aval de familiares, as imagens de um jovem e o processo que o levou a óbito circularam por todo o Estado. A campanha ganhou, ainda, status de referência nacional e foi trabalhada por vários órgãos, incluindo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Avaços da nutrição esportiva dispensam completamente o uso de anabolizantes
Apesar disso, Domingos, presidente da Federação Sergipana de Musculação, lamenta a falta de divulgação massiva dessas iniciativas. “Só costuma se falar nesse tema quando alguém morre. Não se vê nada na televisão, ou em outro meio, que alerte para esses perigos”, opina. A Vigilância Sanitária atua, inclusive, na fiscalização de academias. “Para funcionar, qualquer espaço como esse precisa comprovar a existência de um profissional habilitado pelo Conselho Regional de Educação Física”, explica Antônio, coordenador Estadual do órgão.

Alternativas saudáveis

Opções para manter o corpo em forma e com saúde não faltam: desde a alimentação balanceada ao uso de suplementos naturais, ou a combinação de ambos. Suplementos são compostos por vitaminas, minerais e aminoácidos que complementam a alimentação. “Eles são importante para pessoas com carências nutricionais e para praticantes de atividade física terem um melhor desempenho ou repor perdas nutricionais”, explica Antônio de Pádua.

Domingos vai mais longe e diz que eles podem causar o mesmo efeito dos anabolizantes, mas sem prejudicar o atleta. “A nutrição esportiva está bem avançada. Alguns suplementos têm a mesma potencialidade. Não se pode exceder no uso, assim como é ruim exagerar com qualquer outra coisa. Músculo se constrói com paciência, determinação, boa alimentação e descanso”, revela.