A estudante Anne Carolyne Lelis Oliveira, afirma que foi prejudicada pelo sistema de cotas da universidade. “Se não fosse pelas cotas teria pontuação suficiente para ser aprovada no curso de medicina da UFS. Fiquei como excedente na 23ª colocação com 15.603 pontos, uma pontuação muito boa, mas acho uma injustiça ter que
concorrer a apenas 50% das vagas, porque tiveram alunos cotistas que entraram no mesmo curso com 12 mil pontos”, reclama a estudante que foi a primeira aluna a entrar com uma liminar na Justiça Federal pedindo um mandado de segurança para ter acesso à matrícula na instituição. As estudantes Mônica Wolf(esquerda) e Anne Carolyne (direta)
A estudante Helaina Peixoto Gurgel reclama do critério adotado para as cotas. “A universidade estava vindo em um processo de expansão aumentando o número de vagas nos cursos e do nada toma a decisão de retroceder. Este é o quarto ano que presto vestibular e o critério sempre foi à pontuação e obtive 15.607 pontos e se fosse com o sistema do ano passado teria passado em 73ª colocação”, observa Helaina.
A advogada aguarda o resultado da liminar na Justiça Federal
Para Mônica Wolf as cotas tiram o direito dos estudantes das escolas particulares. “Acho uma injustiça, muitos alunos cotistas serão discriminados na universidade pelos próprios alunos que vão achar que eles são 'menores'”, acredita a estudante.
Justiça
A advogada e mãe de Anne Carolyne, Acácia Gardênia Lelis, diz que é contra o percentual de 50% das cotas. “Não sou contra as cotas como um todo, mas acredito que esse processo teria que ocorrer de forma gradativa. Sou contra o percentual de 50%, porque os alunos de escolas públicas estão concorrendo a 99% das vagas. A universidade deveria ter criado vagas especiais para o sistema de cotas, porque dessa forma esta se levando a Universidade ao aluno e não o aluno a Universidade”, critica a advogada, ressaltando que o processo será julgado pela 3ª Vara da Justiça Federal.
A bancária Cláudia Trentini Farias da Rosa, também entrou com processo junto ao Ministério Público
Federal e enfatiza que alguns estudantes foram beneficiados com o sistema de cotas e outros foram injustiçados. “Meu filho que prestou vestibular para Engenharia Civil pelo segundo ano estudou bastante e conseguiu aumentar a sua pontuação em quase dois mil pontos e não conseguiu passar”, diz a Cláudia questionando o sistema de cotas. A bancária Cláudia Tretini e o filho Túlio
“As cotas ofendem o princípio da igualdade, porque elas geram a chamada discriminação reversa, daqueles que não deram causa ao problema. O cidadão comum, com muito esforço e trabalho, tenta suprir uma lacuna deixada pelo Estado, pagando uma escola particular para um filho e agora está à mercê de soluções que dão privilégios somente a um grupo. O sistema público de educação conseguirá suportar a evasão de estudantes provenientes das escolas particulares a fim de serem beneficiados com as cotas?”, reflete a bancária.
Professores
O professor da rede particular, Chico Andrade, é enfático ao criticar os investimentos para a educação. “O mais absurdo é que em termos práticos não se vê nada para melhorar o ensino da rede pública”, questiona, salientando que os alunos que não foram aprovados se sentiram lesados e enganados pelo poder público. A coordenadora Vânia Rocha falou da decepção dos alunos
“Quando saiu a lista de pré-classificados, o reitor declarou que seriam 50% das vagas para a rede privada e 50% para a rede pública, mas o mínimo para a rede pública é 50%, sendo que eles podem chegar a 100%”, completa Chico Andrade.
A coordenadora da rede particular, Vânia Rocha, diz que o resultado do vestibular trouxe decepção para muitos alunos. “Não sou contra as cotas, mas é triste porque você percebe uma pontuação que se fosse no ano passado, alguns alunos ficariam entre os primeiros colocados. As cotas foram colocadas sem nenhuma discussão por parte da sociedade e não é por aí”, lamenta.
Exemplo O estudante Marx é contra as cotas raciais
Aprovado no curso de relações internacionais, o estudante Marx Valerius, de 20 anos, ex-aluno do colégio estadual Petrônio Portela defende as cotas e planeja seu futuro como diplomata. “Sou a favor das cotas, porque corrige um déficit do ensino público historicamente comprovado em relação ao ensino particular. Pretendo fazer um curso de línguas para poder suprir uma deficiência do ensino público e me dedicar ao curso”, destaca Marx que atualmente trabalha como funcionário público e se declara apaixonado pela profissão de diplomata.
“Desde os treze anos sempre soube que teria aptidão para humanas, foi então que um professor de Geografia me falou a respeito da profissão de diplomata. Estudei bastante porque tenho o prazer da leitura principalmente livros de geografia e historia e consegui uma ótima pontuação no vestibular”, falou o estudante que se declara contra as cotas raciais.
“Acho que foi uma infelicidade as cotas raciais, porque o ensino público talvez tão cedo não seja superado, mas a questão da raça não tem nada a ver com a condição social da pessoa. Torço para que seja revisto as cotas raciais na universidade”, finaliza.
Comissão
O professor Wellington Bomfim, que participou da comissão de elaboração das cotas, explica que o projeto foi feito baseado em estudos de outros programas de Universidades do país e que as cotas fazem parte das políticas de ações afirmativas de reparação social. “Essas políticas são temporárias, não quer dizer que a Universidade Federal de Sergipe vai adotar esse programa de forma permanente. Levamos em conta que existe uma deficiência entre o ensino público e privado e estamos corrigindo essa distorção”, argumenta. Tabela mostra resultado antes das cotas
De acordo com dados do vestibular da Universidade Federal de Sergipe, em 2008, relativo ao curso de Medicina, apenas 2% dos alunos aprovados eram de escola pública, sendo 3% de escola pública federal e 95% da rede privada.
“Entendemos que a universidade pública federal tem sido há várias décadas o privilégio de uma determinada classe social. Se tenho 95% dos alunos de escolas particulares aprovados em Medicina, isso quer dizer que a universidade pública está garantindo o privilégio de uma determinada classe social”, observa o professor.
Estímulo
O professor Wellington esclarece alguns questionamentos com relação à concorrência dos alunos da rede pública no vestibular. “As cotas estimulam os alunos da escola pública a estudar cada vez mais, porque eles passam a concorrer entre si em pé de igualdade e não de desigualdade”, salienta. O professor Wellington Bomfim /Fotos:Portal Infonet
Desempenho
O professor garante que na Universidade os alunos cotistas terão um excelente desempenho em sala de aula. “Tentem ter acesso aos resultados dos alunos que entraram nas universidades brasileiras que já aderiram ao sistema de cotas? O desempenho foi igual ou superior aos outros alunos não cotistas”, afirma.
Acompanhamento
Segundo o Programa de Ações Afirmativas (Paaf), os alunos cotistas serão acompanhados ao longo do curso com direito a bolsa de permanência, alimentação, transporte, moradia e material didático. “O Paaf prevê o acompanhamento tanto das matérias, quando da parte pedagógicas dos alunos. Esse acompanhamento será dado por uma comissão permanente formada pela Universidade”, conta Wellington Bomfim, salientando que a partir de março será realizado um seminário com todos os alunos cotistas.