Fernando Meligeni participa de festival em SE




Em Aracaju desde quinta-feira, 4, para participar do Festival Guaraná Antarctica de Tênis, Fernando Meligeni, conhecido também como Fininho, inspira tenistas da nova geração. Conquistas de campeonatos nacionais, mundiais e a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo fazem de Meligeni um dos mais importantes atletas brasileiros dos últimos anos.

Antes de participar da abertura do festival, o tenista deu uma paradinha e conversou com a equipe de reportagem do Portal Infonet. Falou sobre a formação técnica dos novos atletas e criticou a falta de incentivo aos jogadores que se destacam em Aracaju, como Vitor Maynard, uma grande promessa, como o próprio Meligeni descreve.

Portal Infonet – Você acha que alguma coisa mudou no cenário do tênis brasileiro desde quando você começou nesta modalidade?

Fernando Meligeni – Quando eu era moleque as pessoas consideravam apenas como um hobby, diversão para a elite, e hoje isso mudou. As pessoas vêem o tênis como algo profissionalizado e até alguns pais empurram os filhos para aulas de tênis achando que vão ficar milionários à custa do filho (risos). Mas acho que o esporte vem amadurecendo em todo o Brasil. De um modo geral o atleta está sendo mais respeitado.

Infonet – Você citou que o tênis tinha esse estigma de esporte de elite. Você acredita que ele está socialmente mais democrático hoje em dia?

FM – Sendo bem duro e crítico como gosto de ser às vezes, eu não acredito muito numa democratização. Concordo que o tênis é um esporte praticado por pessoas que tem mais dinheiro, mas isso é fruto de uma idéia que se impregnou no Brasil. Parece que existe uma onda para que nenhum esporte seja idolatrado para que não tire o foco do futebol. Mas se fomos falar no quesito pessoas que gostam de assistir jogos de tênis, podemos classificá-lo como um esporte popular.


Infonet – Você se aposentou em 2003. De lá pra cá qual sua relação com o tênis fora das quadras?

FM – Eu vivo no tênis! Eu não tenho nenhuma profissão paralela que não seja a de tenista. Eu não tenho restaurante, bar, boate, por exemplo, mesmo tendo oportunidade de ter aberto algum. Hoje eu escrevo um blog sobre tênis, escrevi um livro sobre o assunto, faço, em média, 30 eventos por ano, e em São Paulo trabalho com um projeto de relacionamento com empresários aonde toda segunda-feira eles vão lá, batem uma bolinha, o que é muito bom para chamar patrocínio para competições da modalidade.

Infonet – Gosta de assistir partidas amadoras e conhecer novos talentos que despontam nas quadras de tênis país afora?

FM – Gosto e adoraria fazer até mais. Gostaria que esse prazer que tenho ganhasse uma roupagem mais séria e que eu pudesse ser, de repente, um olheiro da Confederação [Brasileira de Tênis - CBT]. Eu circulo por umas 20 cidades por ano, vendo moleques muito bons e que a CBT talvez nunca tenha conhecimento. Infelizmente a gente não consegue isso porque no tênis brasileiro as relações ficaram muito políticas.

Infonet – Algum tenista nordestino merece destaque em sua opinião?

FM – Acho que o Nordeste é um grande celeiro de talentos em qualquer esporte, até porque a chance do atleta perder o foco é muito menor que nas regiões Sul e Sudeste, pois lá existem muitas opções e o cara fica sem saber para que lado seguir. Eu passei por isso! E respondendo à tua pergunta, acho que o Vitor Mayard, aqui de Sergipe, e o Thiago Fernandes, de Alagoas, estão muito preparados.


Infonet – Você conhece de perto o trabalho do sergipano Vitor Maynard?

FM – Sim, sim. Acho muito provável que ele vai deslanchar, porque ele tem uma família estruturada, que o incentiva. Ele gosta muito do esporte e há dois anos está em Ribeirão Preto [SP] comendo o pão que o diabo amassou. Ele bate bem, joga bem e mostra que quer chegar lá.

Infonet – ‘Comer o pão que o diabo amassou’ seria falta de incentivos?

FM – Isso. Acho inconcebível ele ser o número um de Sergipe, o único jogador do estado a pontuar na ATP [Associação de Tênis Profissional] e não ter nenhum apoio. Tão esperando o quê? Ele virar o número um do Brasil para chegar junto? Nesse caso ele vai ter todo direito de olhar pra trás, esquecer da admiração que tem por seu estado, recusar e pegar o patrocínio lá do Sul. Está na hora de apostar nele.